Predefinição:História de Eurico de Almeida Lara

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Eurico Lara nunca foi do tipo mais falante, muito pelo contrário, sempre foi um rapaz tímido e bastante introvertido. Chamava atenção por sua altura, seus cerca de 1,91 somado ao seu físico dava-lhe uma aparência até meio desengonçada. Antes de se tornar goleiro, aventurou-se como ponteiro-esquerdo, mas sem sucesso.

Com 18 anos de idade e jogando pelo time do Exército, Lara, enfim, foi para baixo das traves. De início ainda sem muita técnica em sua nova função, mas que, aos poucos, foi se especializando em fazer verdadeiros milagres por sua equipe.

A transferência

As atuações de Eurico Lara chamavam atenção de todos, essas atuações foram eternizadas nas palavras do dirigente gremista Maximo, conterrâneo do arqueiro: “Em Uruguaiana há um goleiro que, quando ele joga, o seu “team” não perde!”

Os apelos do dirigente foram ouvidos e em 1919, o presidente Aurélio de Lima Py enviou para a fronteira o ex-atacante gremista e então dirigente tricolor Luiz Assumpção. Para apurar a história mais de perto.

Eurico Lara por aqueles tempos atuava no Esporte Clube Uruguaiana. Em um período de total amadorismo do futebol, as transferências eram muito diferentes de como são hoje. Lara era cabo do exército local e para concretizar a transferência, o Grêmio havia através de alguns dirigentes garantido um emprego para sua jovem promessa na Carta Geral de Porto Alegre (atual 1ª divisão de levantamento).

Conta a história que Lara, assustado com toda situação de morar tão longe de casa, chegou até a simular uma doença e ir para enfermaria do quartel.

O início no Grêmio

Eurico Lara
Foto: Desconhecido

Passado o susto e mais acostumado com a ideia, Lara chegou em Porto Alegre em 1920, de trem, com 23 anos de idade.

No dia 15 de junho de 1920, Eurico Lara fez sua estreia contra o Juventude, no Estádio da Baixada. Naquele dia, Lara não seria vencido nenhuma vez pelos atacantes da equipe de Caxias do Sul e o Grêmio venceria pelo placar de 3 x 0.

O arqueiro gremista sempre foi muito determinado e treinou a exaustão o aperfeiçoamento de sua técnica como goleiro, por muitas vezes, até mesmo sozinho, chutando a bola contra o paredão da Baixada e encaixando-a contra o próprio peito.

Reconhecimento nacional

Em 1922, uma seleção gaúcha havia sido montada para participar do torneio nacional de seleções. Era uma competição feita para homenagear o centenário da Independência. Aos campeões caberia o papel de representar o país no torneio Sul-Americano de seleções.

Assim, no dia 02 de agosto de 1922, entrava no gramado da Chácara da Floresta, o goleiro gremista representando a Seleção Gaúcha. Muito alto e desengonçado, no início foi motivo de chacota por parte do público local.

A forte Seleção Paulista comandada pelo lendário Arthur Friedenreich era um duro teste para os gaúchos. Conta a história que Eurico Lara em uma atuação memorável defendeu mais de 20 chutes do craque paulista que tinha a fama de “não perder gols” e mesmo com a derrota de seu time por 4 x 2, Eurico Lara saiu de campo ovacionado por todos presentes no estádio.

A partir disso, Eurico Lara foi figura mais do que carimbada e rotineiramente foi o goleiro da seleção gaúcha nos campeonatos entre seleções estaduais.

A Briga

Lara não pensava em sair do Grêmio, mas tinha um sonho, ser ecônomo do Estádio da Baixada, exatamente por esse desejo não atendido saiu no Final de 1927, o destino foi o Fussball na época conhecido como FBC Porto Alegre. Jogou três vezes contra o próprio Grêmio perdendo todas e tomando um total de 13 gols, especialmente o jogo do dia 29 de julho de 1928 uma derrota massacrante de 6 a 1 que serviu de calmante para Lara, que decidiu esquecer a história do economato e voltar para o Grêmio, como um bom filho retorna ao lar. Foi recebido de braços abertos, depois de quase dois anos sem jogar pelo Grêmio desde 10 de julho de 1927 num empate de 1 a 1 com o Cruzeiro, Lara enfim estava de volta, a 12 de maio de 1929, numa vitória de 3 a 1 sobre o Novo Hamburgo.

início da lenda

Eurico Lara
Foto: Arquivo de Nelson Ramão

Em 19 de maio de 1935, aconteceu um episódio que pode explicar o inicio da lenda em torno de Lara. O Grêmio recebia no Estádio da Baixada o forte time do Santos para um amistoso. Do lado adversário novamente estava Friedenreich. Em um jogo muito disputado, o Grêmio venceu pelo placar de 3 x 2 a equipe paulista. Durante a partida em um dos ataques santistas, o jogador Mário Seixas chocou-se contra o peito de Eurico Lara, causando-lhe uma concussão. Após a partida, o atleta gremista fez exames e descobriu-se que sofria de problemas cardíacos. Eurico Lara foi então, aconselhado a nunca mais jogar futebol.

O Grenal Farroupilha

A constatação da doença cardíaca de Lara, não foi o suficiente para impedir um último e derradeiro esforço do arqueiro gremista. Talvez influenciado pela recente má fase do tricolor, justamente após seu afastamento da equipe.

O estado estava em grande clima de comemoração pelo centenário da Revolução Farroupilha. O campeonato citadino de Porto Alegre de 1935 seria decidido em um épico Grenal, denominado como Grenal Farroupilha. O adversário estava em vantagem. Além de viver uma fase melhor, precisava apenas de um empate para ser campeão.

As arquibancadas da Baixada vieram abaixo quando viram entrar em campo seu ídolo maior. Eurico Lara havia convencido o então técnico gremista Sardinha I a deixá-lo atuar com a camiseta tricolor, mesmo que fosse uma última vez.

Em um comovente esforço reconhecido por todos os presentes, Eurico Lara, que além dos problemas cardíacos ainda estava mais debilitado devido a tuberculose, atuou por 40 minutos pelo Grêmio. Em uma jornada épica como sempre foi, Eurico Lara fechou o gol enquanto esteve em campo, mas foi substituído ao final do primeiro tempo, contorcendo-se de dores e carregado por seus companheiros.

Eurico Lara saiu do gramado e foi direto para sua cama, nas dependências da Baixada. Escutando pelo rádio, Eurico Lara ouviu a Baixada estremecer quando faltando pouco tempo para o final do jogo, ouviu Foguinho, seu velho companheiro de Grêmio estufar as redes do internacional. Pouco depois, o Grêmio ainda marcaria o segundo gol. Lacy fechou o placar da vitória do que para muitos foi o Grenal mais importante de todos os tempos.

Ao final da partida, Lara ainda teve forças para ir até o pavilhão da Baixada e comemorar aquele importantíssimo resultado. Seria a primeira de muitas comemorações, que de tanta importância será comemorada até 2035.

O Adeus de Lara

Eurico Lara
Foto: Desconhecido

Lara apitaria alguns jogos como árbitro antes de ser levado ao Hospital Beneficiência Portuguesa em função de dores no peito por sua doença, sendo internado em estado muito grave. Eurico Lara permaneceu no hospital até o dia 06 de novembro de 1935, quando as 07h10, veio a falecer.

Eurico Lara foi tão grande e genial, que a cidade inteira, independente de gremistas ou colorados, parou. O enterro de Lara foi acompanhado por uma multidão de porto-alegrenses em uma carreata até o cemitério São Miguel e Almas, onde o lendário gremista foi velado.

A lenda

Com o passar dos anos, muita lenda foi criada em torno do goleiro gremista. A mais conhecida conta que no Grenal Farroupilha, o Internacional teve assinalado para si um pênalti. O cobrador colorado era o próprio irmão de Eurico Lara, conhecido como o mais potente arremate do futebol gaúcho. O irmão de Lara teria alertado o goleiro a sair, pois chutaria com toda a força. Eurico Lara não saiu e em um violento chute, teria encaixado a bola contra o peito. O coração de Lara teria parado ali mesmo, e o arqueiro gremista teria morrido em plena partida, defendendo um pênalti batido pelo próprio irmão.

Lara, o Craque Imortal

Entre mitos e verdades, o legado de Eurico Lara se estende até os dias atuais. Eternizado em uma das estrofes do hino oficial do Grêmio, Lupicínio Rodrigues foi autor da maior das homenagens já feitas por um clube de futebol a um de seus atletas:

“Lara o craque imortal
Soube seu nome elevar
Hoje com mesmo ideal
Nós saberemos te honrar”

A história de um jogador que escolheu literalmente dar a vida por seu time. O derradeiro sacrifício e a maior das provas de amor por um clube. Esse foi Lara. Sua morte foi o fim de uma era, mas apenas o inicio de uma lenda, passada de geração para geração. Desde as velhas arquibancadas de madeira da Baixada, até as modernas acomodações da Arena, todos conhecem Eurico Lara Fonseca, que passou de um jovem tímido, para talvez o maior dos nomes da história do tricolor.

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